O dogma da Imaculada Conceição tem origem nesse contexto, na maternidade divina, durante o diálogo da anunciação, entre Maria e o anjo Gabriel que ao perguntar como poderia ficar grávida, se não conhecia homem algum, teve como resposta de Maria de que ela seria fecundada pelo Espírito Santo, por graças do Criador.

“Imune de toda mancha de pecado, tendo sido plasmada pelo Espírito Santo e formada como uma nova criatura”, os padres da Igreja no Oriente chamam a Mãe de Deus de Pan-hagia (a toda santa), razão que se corroborou para construção da identidade mariana de Nossa Senhora da Conceição. O argumento racional não é definitivo, mas completa a harmonia de que Maria é dotada da impecância, não tendo a mancha do pecado original. 

Devota da Virgindade de Maria, a imperatriz-consorte do oriente, Aelia Pucheria promove a veneração a Virgem Maria, entres os padres e o povo e com o falecimento do seu pai, imperador Arcádio, e ascensão do seu irmão de sete anos, Tedósio II, Pucheria, resolve proclama sua suposta virgindade com objetivo de conquistar a simpatia do povo e controlar o Império, utilizando-se do seu voto de castidade e da pouca idade do irmão para ditar os rumos do Governo e da Igreja. É durante a sua regência que se institui o culto a Maria em Constantinopla, influenciando a liturgia da Igreja e em rituais que ganharam força ao longo dos séculos. Sua crença era tão grande que manda construir três igrejas dedicadas a Maria, guardando em uma delas as supostas roupas da Virgem Mãe de Deus. 

Após a promulgação, em 1854, da Bula “Ineffabilis Deus”, decretando o dogma da Imaculada Conceição de Maria, a Igreja organizava em todo mundo as comemorações dos 50 anos do reconhecimento. No Recife, a Igreja buscava entronizar a imagem da Santa em num topo um morro, servindo o lugar para adoração e peregrinação.

Em 1904 foi escolhido o morro do Bagnuolo, nome dos tempos da ocupação holandesa, também conhecido como Bela Vista ou Arraial, e lá foi entronizada a imagem da Imaculada Conceição, com 3,5 metros, pesando 1.808 quilos, e coroa de 34 quilos, trazidas em navio pelos vicentinos – dois anos depois foi construída uma pequena capela (hoje conhecida como torre), e uma casa para servir ao zelador da ermida, que em 2015 foi elevada a santuário pelo arcebispo dom Fernando Saburido, OSB, sendo cuidada pelos missionários redentoristas.

Local de adoração, e se vestindo da mariologia social (Boff), o Morro da Conceição a partir de 1969 vai recebendo outros olhares, com a iniciativa do arcebispo de Olinda e Recife, dom Hélder Câmara, que leva para a comunidade o movimento de evangelização “Encontro de Irmão”, com o conceito pastoral de pobre evangelizando pobre. 

A nova evangelização não estava em pregar o catecismo e a piedade, mas vivenciar a fé através da transformação social a da dignidade humana, promovendo a conscientização da igualdade de direitos. Em 1978, assumiu como vigário o padre Reginaldo Veloso, que liderava as justas reivindicações de melhorias sociais, ficando até 1989, quando foi afastado pelo novo arcebispo dom frei José Cardoso Sobrinho, Ocarm.

Texto:

AGUIAR, Múcio. Santos Populares do Nordeste. Volume: Nossa Senhora do Morro da Conceição. Fundação Joaquim Nabuco. Recife, 2021.