A definição comum de “aparição” é visão ou fenômeno incomum e inesperado, em geral, descrito como figura ou aparência espectral. Swann, na introdução do seu livro “As Grandes Aparições de Maria”, busca esclarecer as diferenças entre “visão” e “aparição” da seguinte forma:

“Visão é quase sempre experimentada interiormente, como se acontecesse em “nossa cabeça”. Muita gente tem visões da Virgem. Mas aparição é sempre experimentada exteriormente e em um ponto, lugar ou espaço bem definido fora do corpo e da mente. Em paralelo com “aparição”, uma das definições
de “aparência” refere-se a um aspecto exterior, uma manifestação exterior, algo que aparece exteriormente de modo paranormal” (SWANN, 2001, p, 21).

Para Carlos Alberto Steil, organizador do livro “Maria entre os vivos: Reflexões teóricas e etnografias sobre aparições marianas no Brasil”, é cada vez mais comum videntes e mensageiros de Maria ocuparem lugar “nas franjas do catolicismo popular” (STEIL, 2003, p. 19). Para Steil, a divulgação dos fenômenos da aparição na imprensa vem fugindo do controle oficial da Igreja. No Brasil, os relatos das aparições entraram no cotidiano de muitos fieis não se isolando apenas no mundo do catolicismo onde esses relatos emergem.

Um dos mais antigos fenômenos de aparição já registrados no Brasil, a aparição de Nossa Senhora das Graças, ocorrido no ano de 1936, no vilarejo de Cimbres, no município de Pesqueira, no Estado de Pernambuco, é importante para as ciências da religião, visto que pontua a necessidade de se aprofundar no estudo do fenômeno mariano na sociedade atual.

Em 1940, Padre Júlio Maria escreve o livro intitulado “O Fim do Mundo está próximo? Profecias antigas e recentes”. Nele, pela primeira vez, em livro, a aparição de Cimbres recebe destaque, inclusive com a informação de que uma das videntes, “Maria da Conceição está ainda com seus pais, em casa; parece-me que nunca mais ella viu a aparição” (GRIFO NOSSO). (MARIA, 1940, p. 68).

Com outro olhar, no livro “História das Religiões no Brasil, Vol. 2”, Edson Silva, em artigo intitulado “Nossa mãe Tamain,” constrói a relação afetiva dos Xucuru com a devoção feminina, afirmando, com isso, a facilidade do indígena a transferir o louvor à mãe Tamain para a das Graças, num verdadeiro sincretismo religioso. Sem alterar nomes, Nossa Senhora das Montanhas/Tamain, ganha uma só identidade e sentimento de pertença, igualmente ao ocorrido no México,
na aparição de Guadalupe.

A historiografia pernambucana ainda se encontra na fase das pesquisas exploratórias relativas ao fenômeno da aparição de Nossa Senhora, na Serra do Ororubá, em Cimbres, no ano de 1936. Assim, é possível apenas encontrar registros da ocupação histórica da localidade e sua evolução.

Sobre o fenômeno, os escritos do frei franciscano Estevão Rottger, que acompanhou monsenhor José Kehrle na época da aparição é, sem dúvida, o mais importante registro, inclusive por ter sido escrito na mesma época do fato ocorrido, esse fator nos leva a crer na precisão dos relatos e a confirmar no detalhamento apresentando (PAIVA, 1987).

Em único trecho do diário do Frei Estevão, que se distingue dos escritos do Padre Kehrle, trata-se das “provas” de que realmente as videntes falavam com Nossa Senhora. A narrativa das perguntas visa atestar a veracidade da aparição e sua conformidade para com a doutrina católica, descartando o pensamento demoníaco que pudesse ter.

Texto:

AGUIAR, Múcio. Aparições e milagres de Nossa Senhora em Cimbres. AIP. Recife, 2018.